Fala pessoal! Tudo certinho?
O ano vai chegando ao fim, dezembro já entrou pra valer e as minhas férias estão batendo a porta já. Mas não se preocupem pois não tirarei férias do Estúdio, apenas no meu serviço mesmo. Enfim, chegando com o último Armon Entrevista desse ano e para fechar com chave de ouro, ninguém melhor para entrevistar do que essa moça que está em alta no ramo de quadrinhos brasileiros: Mariana Cagnin!
Ela é formada em Artes Visuais pela Unesp, é ilustradora, quadrinista e também gosta bastante do ramo do design gráfico. Sua principal obra é "Vidas Imperfeitas", uma história que conta sobre os medos, as incertezas, os amores e os sentimentos de uma jovem garota e seus amigos. Criada para ser um fanzine sem pretensões, já foi publicada em inglês pela editora Fitztown e agora em português pela editora HQM. Essa nova versão teve lançamento no final deste último mês de novembro e Mariana entra novamente em cena para mais uma vez mostrar sua bela arte e roteiro.
Vamos ver a entrevista?
Estúdio Armon: Olá Mariana! É um prazer ter você
como nossa entrevistada em um momento tão importante da sua carreira como
quadrinista. Como se sente em ter seu trabalho publicado por uma editora grande
como a HQM?
Mary Cagnin: Pra dizer
a verdade, não sei direito como me sentir. Tem horas que lembro que o meu
quadrinho agora vai ter uma visibilidade nacional e nem acredito que isso é
verdade! Fico superfeliz que tenha dado tão certo.
Armon: Nos conte um pouco sobre sua
principal obra “Vidas Imperfeitas”. Como teve a ideia para criá-la e como a
colocou em prática.
Mary: Foi
apenas uma ideia que tive no inverno de 2008, enquanto ainda estudava pro
vestibular. Acho que eu estava um pouco bodeada de tanto estudar e precisava
fazer algo, digamos, criativo. E então comecei a desenhar essas páginas bem
toscas, só pra colocar as ideias no papel. Quando decidi postar na internet,
tive um retorno inesperado de pessoas pedindo por mais. Se não fosse por isso,
a história jamais teria ido pra frente. Eu desenhei mais páginas,
compulsivamente, mas todas bem simples, quase rascunhadas. Aí eu entrei na
faculdade e entrei em contato com outros “fanzineiros” e tive a ideia de
transformar aqueles rabiscos numa revistinha. Foi o que eu fiz. Em pensar que
começou dessa forma tão descompromissada...
Armon: Enfrentou muitas dificuldades ao
longo da produção?
Mary:
Dificuldades sempre existem, principalmente quando se trabalha sozinho. Sim,
ser quadrinista é uma profissão solitária, e também muito trabalhosa. Passamos
meses, anos, desenhando páginas que as pessoas vão ler em alguns minutos
(talvez algumas horas), então é preciso acreditar muito no que se faz. Eu
acreditava muito, então nunca desisti, pra mim não existia essa opção. Eu
precisava terminar o que tinha começado, por mais difícil que fosse. Mas toda
vez que saía uma edição nova, eu sentia que todo o esforço tinha valido a pena.
Mary: Meu
primeiro contato talvez tenha sido com Turma da Monica e Menino Maluquinho,
coisas que lia na infância, mas o que me marcou mesmo foram os mangás. Comecei
assistindo animes na TV e logo encontrei na banca os mangás. Fiquei fascinada
por aquele universo, por aquele jeito único de contar histórias, e comecei a
desenhar as minhas quando ainda era pré-adolescente. Claro que tive que
praticar muito pra atingir algum nível aceitável, tanto no desenho quanto na
narrativa, rs.
Armon: Como foi o seu início fazendo
histórias em quadrinhos? Como tudo começou?
Mary: Desde
muito cedo eu costumava desenhar algumas historinhas, até mesmo na escola, pra
mostrar pros amigos. Foi uma coisa natural, que foi evoluindo ao longo do
tempo. Então uma coisa levou a outra, com o sucesso do Vidas, pela primeira vez
eu me imaginei como quadrinista.
Armon: Desde que você começou a desenhar, tinha ideia de que chegaria tão longe?
Mary: Não
mesmo! Como disse antes, o Vidas começou de forma completamente despretensiosa,
e eu jamais imaginaria chegar onde estou hoje. A gente sonha, é claro, mas a
realidade é muito diferente. O importante pra mim é que eu tenha criado e
produzido uma obra da qual eu possa me orgulhar, e foi o que aconteceu. Apesar
dos altos e baixos, eu coloquei minha alma em cada página, e eu apenas poderia
desejar que as pessoas tivessem um pouco de mim também. Pra mim, isso importa
mais do que o sucesso em si.
Mary: Eu espero
que mais pessoas tenham a oportunidade de ler minhas histórias, e espero que
esta seja apenas a primeira delas. Pela primeira vez, eu tive vontade de
continuar produzindo quadrinhos, porque sinceramente, não era algo que eu
planejava “fazer da minha vida”. E talvez não seja. Mas se eu puder continuar
contando histórias, para mim será o bastante.
Armon: Você possui os capítulos de sua
obra disponíveis para leitura no seu site. Acha que a mídia impressa e a online
podem coexistir? Explique sua opinião sobre essa questão.
Mary: Com
certeza! Elas devem coexistir. O impresso é algo que está aí há muito
tempo, já tem o seu lugar no mundo, e o digital é uma mídia nova muitas vezes
ignorada ou mal-utilizada pelos autores/editoras. Se a mídia existe (e
funciona) porque não usá-la? Nem se for apenas para divulgar o trabalho. No meu
caso, o impresso (fanzine) não me dava assim tanto lucro, e eu queria que mais
pessoas tivessem acesso aos meus trabalhos, então a internet funcionou muito
bem. As pessoas que liam no site e gostavam, muitas vezes se interessavam em
obter o impresso. E eu sou dessas pessoas que quando gosta, quer ter nas mãos,
guardar na prateleira, emprestar para os amigos. E eu acho que as revistas
sobrevivem por causa de pessoas como eu, que não abrem mão de uma coisa por
outra. (Para ler os capítulos de Vidas Imperfeitas clique aqui)
Mary: Tem o
Hiroaki Samura, de Blade of the Immortal, que deve ter sido minha maior
inspiração de mangá. Eu ficava impressionada com as páginas finalizadas a
grafite e decidi tentar a mesma coisa nas primeiras edições do Vidas. Depois eu
desisti da ideia e parti pro nanquim, mas a arte dele ainda me impressiona. E
tem a Ai Yazawa, que criou Nana e Paradise Kiss, um tipo de mangá muito
parecido com o que eu queria fazer, mais próximo da vida real. E depois teve o
Neil Gaiman, um dos meus primeiros contatos com os quadrinhos ocidentais com o
Sandman, que mudou completamente a forma com a qual eu enxergava quadrinhos.
Mas teve muito mais que não lembro agora, que me influenciaram de alguma forma.
Armon: Recomende para os leitores do
Estúdio Armon, histórias em quadrinhos nacionais que você tenha lido e que te
marcaram.
Mary: Daytripper, dos gêmeos Fabio Moon e Gabriel Ba, tem um jeito diferente de
contar uma história, tem profundidade e te faz pensar. Agora, pra dizer a
verdade, eu li muito mais quadrinho independente nos ultimos anos do que o que
saiu nas grandes editoras. Pieces, do Mario Cau, Spy Project, da Kari Esteves e
muitos outros.
Armon: Quais são seus planos para o
futuro, além é claro de finalizar a publicação de Vidas Imperfeitas.
Mary: Meu
futuro é ainda incerto, tenho todo tipo de dúvida possível, de gente
recém-formada que não sabe o que fazer da vida. Ando pensando em começar um
projeto novo de quadrinhos, mas entre uma ideia e um projeto concreto tem muito
chão. Mas é algo que eu gostaria de fazer, mesmo que não seja meu trabalho
principal.
Armon: Quem quiser adquirir as versões
impressas, pode achá-las onde para comprar?
Mary: Nas lojas
da Comix (física e virtual) e em outras lojas especializadas em quadrinhos.
Armon: Deixe um recado para quem está
caminhando por essa mesma estrada de quadrinhos que nós. O que é preciso para
ser um bom quadrinista?
Mary: É preciso
ter paciência e perseverança. É preciso desenhar primeiro para nós mesmos e
depois para o público (nunca apenas para um ou outro). Passamos muito tempo
debruçados na prancheta para fazer um trabalho da qual não gostamos, e
acredite, a paixão move montanhas. Ninguém começa perfeito, sendo o rei/rainha
dos quadrinhos, então pratique, pratique muito e até mesmo quando achar que
estiver bom. Se achar que encontrou a sua zona de conforto, é porque está na
hora de partir para um novo desafio. Tenha certeza de que tem uma história que
vale a pena ser contada, e então, como diz o mestre Neil Gaiman, você contará
uma história única, que apenas você pode contar. E assim vamos indo! =)
Bom, e essa foi a entrevista da linda Mariana Cagnin! Mais uma vez agradeço a ela por ter cedido essa entrevista e desejamos muito sucesso na nova editora. Acompanharemos seu trabalho de perto! E se você também quiser acompanhar, além de comprar os impressos, também pode acessar o blog sempre com atualizações: Blog Vidas Imperfeitas.
É isso aí, galera! Vou ficando por aqui com a última entrevista do ano, fechando com chave de ouro!
Até mais!
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Bom, e essa foi a entrevista da linda Mariana Cagnin! Mais uma vez agradeço a ela por ter cedido essa entrevista e desejamos muito sucesso na nova editora. Acompanharemos seu trabalho de perto! E se você também quiser acompanhar, além de comprar os impressos, também pode acessar o blog sempre com atualizações: Blog Vidas Imperfeitas.
É isso aí, galera! Vou ficando por aqui com a última entrevista do ano, fechando com chave de ouro!
Até mais!
Ótima entrevista! Já admirava o trabalho da Mariana faz um tempo e é muito bom ver artistas nacionais ganhando destaque e reconhecimento em editoras!
ResponderExcluirE concordo com o ponto de vista quanto a parte de disponibilizar tanto a versão online como a impressa. Muita gente acha que pelo fato de deixar a versão online, isso meio que faz com que as pessoas deixem de comprar o impresso. Tive uma experiência no último evento que eu fui que ajudou a sustentar ainda mais a ideia de continuar com ambos os tipos de publicação: haviam 2 pessoas que compraram o impresso (todas as edições), justamente porque viram antes a história no blog e gostaram.
Antes eu tinha o pensamento contrário, de achar que se eu colocasse o conteúdo online iria perder leitores, mas não é bem assim que acontece. Se a pessoa gostar mesmo da história, ela corre atrás e compra, fora que no meu caso (falando do Sigma Pi em específico) já tem um adicional a mais que é um produto de divulgação científica, então não faz sentido restringir o alcance do público. XD
Além disso, com a internet você consegue muito mais alcance, no sentido das pessoas conhecerem seu trabalho mais rápido, do que se for num evento de anime que ocorre a cada 6 meses, por exemplo.
Bom, é isso aí! o/ no aguardo de mais entrevistas!
Obrigado pelo comentário, Adriana! Eu estou quase me convencendo a colocar todos os meus impressos para leitura online. Hahaha! Há pouco tempo eu ainda pensava em não perder leitores para mim mesmo. Porque conheço poucas pessoas que gostam de ler online e comprar depois, então achava que se alguém lesse aqui, não iria querer o impresso pois não seria novidade. Mas de uns tempos pra cá, tive que diminuir as tiragens das edições mais recentes porque entrei num impasse. O volume 1 vendeu tudo, o 2 nem metade. Mas se eu quiser vender os volumes 2 que sobraram, vou precisar de mais volumes 1. E aí veio o volume 3. Quem não leu os dois anteriores, não vai comprar, é claro. Se eu tivesse tudo online, bastava a pessoa ler os anteriores online. Mesmo porque o intuito não é ganhar dinheiro com os impressos, já que todos nós sabemos que o lucro é bem baixo, mas sim fazer ser conhecido e realmente a internet teria um alcance maior. Eu coloco algumas histórias diferentes para leitura e outras eu faço impressa e acaba que as impressas que eu considero carro-chefe do estúdio, estão tendo menor força que os online. Hahaha. Engraçado, mas é assim... Logo vou divulgar melhor... Repensar meu modo de divulgar e seguir em frente. Valeu! o/
ExcluirMuito boa a entrevista, Fábio. Sem dúvida, Mariana Cagnin é um exemplo para os quadrinistas independentes como nós. E concordo que os quadrinhos impressos e digitais podem coexistir sim.
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