quinta-feira, 16 de março de 2017

Quadrinhos independentes nacionais

Olá, aqui quem digita é Andressa Gohan e desta vez venho falar sobre o mercado sofrido independente de quadrinhos nacionais do Brasil.
Sem entregar muito a idade, lembro da época em que eu e um grupo de doidas amigas nos reunimos para criar nosso fanzine e fazíamos da forma mais pobre e fodida artesanal possível, pois tirávamos cópias da cópias, montava com cuspe dos meus cachorros cola, fazíamos alguns fanzines e vendíamos pelos correios, com matérias, histórias em quadrinhos, curtas, ilustrações, foi um tempo bem bacana e nostálgico. Internet e impressora era para poucos e dadas nossas condições financeiras de falência, somente alguns do grupo tinham os tais computadores.
Hoje como as coisas mudaram. Um abismo separa daquela época que não digo que foi há uns 17 anos do que temos para o quadrinista independente brasileiro atualmente. Programas de edição de imagem e quadrinhos gratuitos, dicas de Youtubers, maior facilidade de encontrar materiais de desenho de boa qualidade e próprios para tal, financiamentos coletivos, diversidade de feiras de animes e quadrinhos em todo o país exceto aqui no Acre do Sudeste que é raridade, sites de hospedagem de webcomics gratuitos, redes sociais, enfim, ficou mara mais acessível. Sou uma fã de quadrinhos nacionais e sempre que a realidade financeira permite, busco apoiar e incentivar adquirindo mais um para a coleção, seja acompanhando financiamentos coletivos ou a lojinha do artista.

Coleção de quadrinhos nacionais, a maioria autografado, nhefow!

Grandes estúdios observam este crescimento e como exemplo tem o projeto da Maurício de Souza Produções aquele tio dahora simpático pacas, lançado em 2009, que traz artistas nacionais fodas bakarai sem vida social consagrados ilustrando e compondo o roteiro, no modelo de Graphic Novel (novela dos geeks) utilizando personagens já conhecidos em traços únicos. Primeiro foi lançado o MSP-50, em homenagem a 50 anos de carreira do tio Maurício (2009) contando com um total de 04 livros e em seguida o Graphic MSP (2011), com vários livros fantásticos relatando as histórias dos personagens individualmente e contando com os ilustradores nacionais.



Artistas brasileiros hoje buscam sua identidade e o que antes era visto apenas como histórias de cenários e formas gringas, hoje podemos facilmente encontrar a realidade das favelas, ruas esburacadas, centros urbanos famosos, arquiteturas históricas, nudes do Paulo Zulu realidades sociais, entre outros, compondo os quadrinhos nacionais.

Essa vida de motoboy está cada dia mais difícil...
Se tem Rebeca Prado, já quero!!

Ainda temos muito que aprender. 
Ainda encontro muitas tentativas de copiar aquela-historia-que-está-na-modinha-e-fazendo-sucesso-em-Hollywood, aquelas roupas colantes e sem sentido de super heróis, falta de planejamento de roteiro e ilustrações, mas enfim, estamos no caminho (somos do corolhow). A quantidade está maior, mas ainda precisamos buscar a qualidade.
No ano de 2016 o Estúdio Armon iniciou um projeto de financiamento coletivo no Catarse (tema para o próximo post, mas nunca se sabe, na verdade não sei, só porque falei isso agora não vai sair nada) e fui uma das convidadas a ilustrar algumas páginas. Olha, honestamente nunca na minha vida podia imaginar que eu desenho bem o suficiente pra isso eu teria um dia a possibilidade de publicar algo impresso. É muito caro, o público ainda é pequeno, dá medo, me caguei de ansiedade é um universo novo pra aquela pessoa lá de mil novecentos e bolinha uma época que mal tinha computador e impressora para produzir os trabalhos de escola acreditar que este SONHO poderia ser real.
E aconteceu.
Gritamos, pulamos, foi financiado caralhowwwwwww e ainda temos exemplares extras breve em um evento mais próximo de você ou pelos correios após passar pelos portais de Nárnia em Curitiba graças ao apoio do público que confiou em nosso árduo trabalho e possibilitou o alcance de meta estendida nhefow. Buscamos cada um trazer seu relato do que é um feliz para sempre, aos olhos dos artistas convidados, cada um no seu estilo de arte e visão do tema (queria mostrar que meu feliz para sempre é comer hambúrgueres com batata frita todos os dias sem me tornar cardíaca, mas o Fabio não deixou) e ficou bacanudo (e disponível para compra na lojinha do estúdio, edições limitadas).



Coisa mais linda, gentyyy!!!
Nossa identidade ainda está em construção e entendimento. Lembro de uma das várias dicas que acompanho no canal do You Tube da Editora Crás e reflete o que o brasileiro precisa para buscar sua identidade: falar sobre si. Relatar na história suas experiências vividas, que por vezes estão escondidas por vergonha, por achar que é comum ou inexpressivo. Um bullying sofrido na adolescência que lhe trouxe traumas, uma tragédia familiar, uma profissão difícil, um objetivo que precisava ser alcançado, relatos de amigos ou parentes que sofreram alguma violência, tudo isso ajuda a compor seu roteiro e abrir os olhos de quem não conhece a realidade do Brasil. Notícias pipocam todos os dias na nossa frente e tudo pode compor histórias incríveis, quando bem elaboradas.


Você é independente, suas asas estão livres para criar, sem pressão de editoras, empresas, público. Você é a diferença do mercado de quadrinhos. Você tem uma história para contar. E por várias vezes percebi que as grandes histórias em quadrinhos que souberam fazer a diferença no vasto mercado mundial foram as que o autor relatou sua realidade, o desenhista teve olhos para os pequenos detalhes daquele cenário. Aquela cena de uma pessoa em um beco escuro de tijolos americanizados agora pode ser visto pelos olhos de um brasileiro como um beco de uma favela. Uma rua escura sem iluminação pública ao lado de uma cracolândia. Não temos latas de lixo, ele fica na rua em sacolas de supermercados. Essa é a nossa triste realidade, mas não podemos nos envergonhar dela, pois é ela que nos distingue de qualquer lugar do mundo e que nos faz únicos. Somos independentes para criar, o que nos prende de alcançar o voo?

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