Outubro chegou voando e o ano de 2014 já está indo embora. Esse mês o Estúdio Armon completa seus 2 anos de existência e eu queria fazer algo especial como uma promoção ou postagens especiais de aniversário mas como a correria está grande e temo pela baixa taxa de participações em uma possível promoção, achei melhor apenas fazer postagens especiais. A primeira postagem especial do nosso mês de aniversário é a entrevista com um dos quadrinistas brasileiros que foi fonte de inspiração para o início de nossas carreiras com tirinhas: Vitor Cafaggi!
Vencedor do prêmio HQMix por sua principal série Valente e um dos grandes nomes atuais dentre os quadrinistas nacionais, Vitor já é bastante conhecido por grandes trabalhos como Puny Parker e a Graphic Novel Laços, juntamente com a Mauricio de Souza Participações. Ele nos deu uma entrevista bem bacana e agradeço profundamente pois sempre quis entrevistá-lo. Vamos conferir?
Estúdio Armon: É um prazer imensurável ter você como
nosso entrevistado desse mês. Suas tirinhas são uma das principais inspirações
que me fez começar a fazer tirinhas.
Vitor Cafaggi: Que legal!
Obrigado! É sempre estranho quando dizem isso, porque na minha cabeça, eu
também estou começando agora. É engraçado ser inspiração pra alguém. Fico
lisonjeado. Hahah!
Armon: Como começou a sua paixão por
quadrinhos? Qual foi seu primeiro contato com eles?
Vitor: Eu
tenho um irmão quatro anos mais velho e ele aprendeu a ler com dois, três anos
de idade. Assim, quando eu nasci já tinha um monte de revistinha na minha
casa. A primeira revista em quadrinhos que me marcou foi a Homem-Aranha nº
37 da Editora Abril de 1986, eu acho. Era uma história incrível do Aranha enfrentando
o Fanático. Eu me apaixonei por quadrinhos na hora que li essa
história e, a partir dessa revista, comecei a colecionar. Na
verdade, eu já "lia" quadrinhos antes de aprender a ler, mas foi essa
revista me fez sentir uma coisa nova, parecia que aquilo tinha sido feito pra
mim.
Armon: Quando e como surgiu a vontade de fazer
suas próprias histórias? Quando começou, tinha ideia de que chegaria onde
chegou até hoje?
Vitor: Eu sempre
quis fazer quadrinhos. Desde pequeno, eu não gostava só de desenhar. Gostava de
fazer histórias com meus desenhos. Pegava folhas de caderno, dobrava, desenhava
tudo em quadrinhos, com balões. Fiz isso minha infância inteira.
Quando
comecei a fazer as tiras semanais do Puny meu objetivo principal era
me condicionar a desenhar sempre. Para, assim, melhorar meu traço e
minha narrativa e um dia fazer um trabalho digno de apresentar para as
editoras. Comecei colocando as tirinhas no meu álbum de fotos do Orkut e
avisei aos amigos que ia fazer uma tirinha nova toda semana. Dessa forma eu
meio que me obriguei a manter essa produção semanal de tirinhas. Meus
amigos mostravam as tirinhas para os amigos deles e, com o tempo, mais
gente foi conhecendo o personagem. Muita gente me pedia pra fazer as
tirinhas em português e, por isso, criei o blog. Foi uma tirinha que eu
criei pra mim, pras pessoas parecidas comigo. Não imaginava que essas tirinhas seriam um
divisor de águas na minha vida.
Armon: Sobre Valente, sua principal obra, como
surgiu a ideia para a criação dessa belíssima história?
Vitor: Valente
nasceu quando o jornal O Globo me convidou para criar uma série de tiras
para a sua página dominical. Como eu não tinha muito tempo para criar, eu resolvi
contar uma história que eu já conhecia bem, com personagens que eu
conhecia tão bem quanto conheço meus amigos, minha família, minhas
ex-namoradas. Valente é totalmente baseado na minha adolescência. Escolhi certo
momento, bem representativo, em minha vida e segui contando minha historia
a partir daí, através de tiras com cachorros, gatos, pandas e macacos.
Armon: Nos conte como é o processo de criação
das tirinhas. Desde a criação da ideia até ela chegar ao blog para os leitores,
se puder.
Vitor: Eu tenho um
monte de ideias anotadas. Tento colocar elas em ordem e depois já faço um
rascunho bem rápido da tirinha. Coisa de trinta segundos mesmo. Desse rascunho,
faço o desenho, arte-finalizo, digitalizo e coloco os balões.
Armon: Como foi o contato com Panini para a
publicação impressa? Como se sentiu sendo publicado no Brasil, sendo que nosso
mercado de quadrinhos dá tanto valor a produtos de fora?
Vitor: A
conversa com a Panini começou
em 2012, durante o FestComix, em São Paulo, enquanto eu lançava o segundo
volume, Valente Para Todas. Nessa primeira conversa, a editora demonstrou
interesse em lançar tanto o Valente, quanto o Puny Parker. Ao longo de 2013,
continuamos conversando sobre essas duas possibilidades. A Panini continua tentando viabilizar a
publicação do Puny Parker com a autorização da Marvel, o que seria o máximo.
Pouco antes do FIQ, mais uma vez em uma decisão bem em cima da hora, fechamos
essa parceria em relação ao Valente. Pra mim, está sendo ótimo porque as
revistas com a Panini chegaram a
lugares que eu, como independente não consigo chegar.
Armon: É fácil perceber e também você sempre
comenta que o Valente tem muito de você, assim como o Puny Parker. Elas são
como uma autobiografia em quadrinhos?
Vitor: Sim, tanto
nas tiras do Valente, quanto nas do Puny Parker, coloco muita coisa da minha
infância e adolescência.
Armon: E como foi produzir Laços da Turma da
Mônica? Teve contato direto com o Maurício de Souza? Foi complicado montar a
sua visão da Turma?
Vitor:
Foi ótimo! A gente teve muita liberdade e tempo para fazer esse projeto. O Sidney
Gusman deu liberdade total pra gente desde o início. Assim, Lu e eu pudemos
trabalhar de forma bem parecida com a que trabalhamos nossos quadrinhos
independentes, pudemos colocar nossa cara nessa história. Fomos convidados
para esse projeto por conta de nosso trabalho com os quadrinhos
independentes, não tinha porque a gente mudar isso e fazer diferente. Durante o
processo de produção, nosso contato direto era com o Sidney. Ele acompanhou
tudo passo a passo, o que foi ótimo e deu mais segurança pra gente. Volta e
meia, ele contava pra gente sobre alguma reação do Mauricio ao ver as páginas.
Era bem legal!
Armon: Você possui outras obras também como a
sequencia de tirinhas Puny Parker e o livro Duo.tone. Pode nos falar um pouco
sobre elas?
Vitor: Os dois falam
muito sobre minha infância. Não sei exatamente de onde surgiu a ideia do Puny Parker.
Não houve um momento específico que eu me lembre como sendo o da criação dele.
O Puny é uma mistura de tudo o que eu gostava na minha infância nos
anos 80. Eu lia as revistas do Homem-Aranha, as tirinhas do Calvin, assistia o
desenho do Charlie Brown na TV, ia ao cinema para ver De Volta para o Futuro,
Os Goonies e os filmes do Stallone... Acho que a ideia não surgiu... Ela
sempre esteve aqui comigo.
Já
Duotone fala sobre crescer e ao mesmo tempo continuar sendo você mesmo.
Armon: Quais são os autores em que você mais
se inspira? Cite nacionais e internacionais.
Vitor: Os
trabalhos dos Bill Watterson e do Charles Schulz são, com
certeza, minhas grandes influências. Considero as histórias do Calvin como
a melhor coisa já feita em quadrinhos. E Peanuts é a base de tudo. Mais
recentemente, me inspira bastante os trabalhos de Jeff Smith, Bruce Timm,
Skottie Young, Sonny Liew, Juanjo Guarnido eKyle Baker . Dos nacionais tem o Gustavo Duarte,
o Eduardo Medeiros, Danilo Beyruth, Ricardo Tokumoto, Salimena, Damasceno,
Garrocho, Eiko, Crumbim... São vários.
Armon: Recomende para os leitores do Estúdio
Armon alguns quadrinhos nacionais que você teve a oportunidade de ler e curtiu.
Vitor: Xampu, Quaisqualigundum, Quadrinhos A2, Cosmonauta
Cosmo, Bando de Dois, Monstros, Bear... Tem um monte.
Armon: Quais são
seus planos para o futuro. Pode nos contar o que tem em mente, ou algum projeto
que esteja em andamento?
Vitor: No momento,
estou começando a trabalhar na continuação de Turma da Mônica – Laços. Ano que
vem, além dessa, sai também o quinto livro do Valente. Por enquanto, é isso.
Armon: Deixe alguns links para os leitores
conhecerem mais do seu trabalho. Onde comprar, onde ler?
Vitor: Tirinhas do Puny Parker e do Valente: www.punyparker.blogspot.com
Armon: E para finalizar, aquela mensagem para
os leitores que tentam seguir uma carreira dentro desse meio tão complicado
quanto é o mercado de quadrinhos.
Vitor: Não pense que
é tão complicado assim. Fazer quadrinhos dá muito trabalho, mas não é difícil.
Se eu achasse difícil, estaria fazendo outra coisa. Faça de coração, faça quadrinhos
pra todo mundo ler, mostre seu trabalho. Acho que esses são os melhores
conselhos que posso dar.
***
Espero que tenham curtido a entrevista deste tão jovem grande mestre na arte de divertir. Foi um enorme prazer quando ele aceitou nos conceder essa entrevista e ela entra para o hall de entrevistas mais importantes do Estúdio sem dúvida! Nada melhor do que uma grande entrevista para começar o mês do nosso aniversário!
Não deixe de conhecer o trabalho do Vitor.
Sucesso, cara!
Até a próxima!
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