quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Armon Entrevista: Giorgio Galli Neto


Bom dia, pessoal! Tudo certo?

Mais um Armon Entrevista chegando na parada! Nem preciso dizer que a postagem novamente mudou de dia, né? Ao invés do sábado, agora nossas entrevistas irão ao ar na primeira quarta-feira do mês. O nosso entrevistado do mês de setembro é quadrinista de terror Giorgio Galli Neto!

Morador de Araruama-RJ, Giorgio é formado em jornalismo e pós-graduado em marketing, ilustração e design. Trabalha como ilustrador, designer e professor de quadrinhos na sua empresa própria, a Gico Comunicações. Sua principal história se chama "Salomão Ventura" uma HQ que conta sobre um caçador de lendas brasileiras. Isso mesmo! Ventura percorre todo o Brasil misteriosamente em busca de derrotar as facetas malignas que figuras como Saci, Curupira e a Cuca podem apresentar. Porque desde o inicio dessas lendas, elas foram contadas para assustar e segundo Giorgio, elas perderam essa finalidade. Em Salomão Ventura, ele busca resgatar o lado sombrio de nossas lendas.

Vamos ver a entrevista?


Estúdio Armon: Olá, Giorgio. É um prazer entrevistá-lo. Para começar, nos conte como foi seu primeiro contato com os quadrinhos.
Giorgio Galli Neto: É um prazer estar aqui!
Meu primeiro contato foi bem jovem, tipo uns 4, 5 anos... Minha mãe sempre nos incentivou a ler, seja lá o que fosse. Mas quando topei com os gibis da Marvel publicados na época pela Bloch, fiquei fisgado!

Armon: Antes de falarmos de Salomão Ventura, você realiza um trabalho bem amplo no campo das artes. Conte-nos um pouco sobre a Gico Comunicação e como ela surgiu.
Giorgio: Minha agência é a única aqui na minha cidade (Araruama, Região dos Lagos do Rio de Janeiro). Sou formado em jornalismo, com pós-graduação em Marketing e Design, e atuo nessas áreas prestando serviços para empresas. A Gico Comunicação presta serviços de design, ilustração e HQs institucionais, e já estamos atuando como empresa há cinco anos.

Armon: Você também dá um curso de HQ! Não é difícil encontrar tempo para tantas atividades?
Giorgio: Na verdade, não é nada fácil! O jeito é organizar a agenda para caber tudo direitinho, e ainda sobrar tempo para o lazer e para a família.

Armon: Nos conte um pouco sobre Salomão Ventura e como foi a sua criação.
Giorgio: Salomão Ventura foi criado por volta de 2005, mas ainda não tinha esse nome. A princípio ele seria um detetive paranormal que investigava as assombrações Brasil afora; o projeto começou, mas por conta de outras atividades fiz só umas 10 páginas dessa primeira versão (onde o caçador era ruivo, e usava rabo-de-cavalo!).
Em 2010, quando terminava minha pós em design e ilustração, tinha que preparar um TCC onde o tema era bem amplo. Resolvi me divertir enquanto trabalhava, e decidi fazer um trabalho prático/teórico chamado “A criação de uma HQ de terror baseada no folclore brasileiro”. A parte prática foi o desenvolvimento da HQ do Caçador de Lendas, agora bem diferente da primeira versão: bem mais sinistra e violenta e voltada para um público mais maduro. Enquanto terminava parte da HQ, surgiu um concurso de quadrinhos de terror promovido pela operadora Oi, que tinha planos de levar conteúdo de quadrinhos para os celulares. Minha HQ, mesmo tendo inscrito só o prólogo (contando a “origem” do Saci), foi vencedora! E isso me deu mais força para concluir a primeira edição e publicá-la de forma independente. De lá para cá não parei mais.

Armon: As duas primeiras edições foram feitas de modo independente e a terceira foi financiada via catarse. Você já tinha em mente atingir essa quantidade gigantesca de público quando desenhou o caçador de lendas pela primeira vez?
Giorgio: Para ser sincero, não. Era um grande tiro no escuro! Pra começar, o gênero terror já não gozava da mesma popularidade que tinha nos anos 80; segundo, a HQ era NO Brasil e SOBRE personagens brasileiros; e terceiro, nada de super-heróis coloridos e mangá, que é o que vende por aqui. Foi bom receber críticas positivas e uma resposta bacana dos leitores!

Armon: Porque o gênero terror?
Giorgio: Por que eu simplesmente ADORO terror! Quadrinhos, filmes, livros... Quando o assunto é terror, não tenho barreiras. Pareceu-me natural escolher esse gênero para fazer minha estreia como autor independente de quadrinhos.

Armon: Qual o processo que você utiliza para fazer a HQ, desde os esboços até a revista impressa pronta?
Giorgio: Primeiro, eu penso um tema, uma linha-guia para balizar a história, e deixo “cozinhando” na caixola. Geralmente esse tema vai junto com o protagonista / antagonista da história (por exemplo, na segunda edição do Salomão Ventura eu já sabia que ia ter o Curupira, e como pano de fundo a biopirataria na Amazônia, além de uma trolagem com os filmes de ação dos anos 80/90. Junte tudo isso em banho-maria e buuuum: uma hora a história surge).
Assim que tenho o “estalo” de como a história vai começar, se desenvolver e principalmente terminar, eu sento para escrever o roteiro. Primeiro faço um resumão por página (uma linha de uma folha pautada por página de quadrinhos). Depois escrevo o roteiro formal, que pode ser em forma de quadrinhos, ou digitado mesmo. Salomão Ventura #3 eu escrevi o roteiro inteiro para só depois fazer as thumbnails; já a quarta edição fiz o roteiro já em forma de quadrinhos. Depende muito do tempo que tenho.
Com o roteiro pronto, passo para o esboço em formato A3. Esse esboço, quase em formato final, é digitalizado, e em cima dele preparo os textos. Só depois dos textos no lugar faço a arte-final, toda no computador. Depois é só montar o arquivo em PDF e enviar para a gráfica.

Armon: Com a popularização da internet, o papel está perdendo um pouco o mercado. Compensa fazer as revistas impressas e disponibilizar também na internet?
Giorgio: A revista impressa ainda é a grande vedete, pois só publicando na internet você não consegue toda a visualização que um impresso tem. O ideal, creio, é misturar as duas estratégias: publicar em papel primeiro, e posteriormente distribuir digitalmente.

Armon: A edição 04 está em produção. Pode nos contar um pouco do que vem por aí?
Giorgio: Nessa edição, que será em formato livro, com 80 páginas, vamos finalmente ficar sabendo quem – ou o quê – é o Caçador de Lendas, além de apresentar aos leitores minha versão da Cuca. Só para adiantar, não tem nada de jacaré louro na história.

Armon: Quais são os artistas que são referências para você? Cite alguns nacionais e internacionais também.
Giorgio: Nacionais, com certeza Mozart Couto, Flavio Colin, Shima, Gabriel Bá, Fábio Moon, Rafael Grampa, Watson Portela, Danilo Beyruth. Internacionais: Mike Mignola, John Buscema, Jack Kirby, Moebius, Eduardo Risso, Brian Bolland.

Armon - Você vê quais obstáculos quando o assunto é quadrinhos no Brasil?
Giorgio: Como autor independente, o principal obstáculo é com certeza a distribuição. O Brasil é imenso, e distribuir uma HQ independente com baixa tiragem beira o impossível. O jeito é apelar para o envio por correios, o que encarece bastante para o leitor.

Armon - Como fazer para adquirir as edições de Salomão Ventura?
Giorgio: Temos uma loja virtual no facebook. Basta entrar na página do personagem, e clicar na aba “loja virtual”.  Lá estão à venda todas as edições, além de pacotes promocionais, com frete a R$ 4,00 para todo o país.

Armon: Deixe um recado para os leitores do Estúdio Armon que queiram seguir carreira no desenho ou nas artes gráficas.
Giorgio: Já virou chavão falar isso, mas o lance é acreditar no seu sonho, treinar muito e permanecer em um estado de insatisfação eterna, o que vai fazer você melhorar a cada página. Estude, treine, desenhe a cada segundo que puder!
Obrigado pela honra de conceder essa entrevista ao Estúdio! Eu que agradeço! Um abração!


Essa foi a entrevista de Giorgio Galli Neto, mais um impressionante artista brasileiro! Não é fácil desenhar o gênero terror, ainda mais tratando um tema tão brasileiro como folclore! Eu adquiri as revistas e adorei a qualidade do material. É impressionante o traço, o clima que a história passa, os regionalismos à parte. Salomão Ventura - O Caçador de Lendas é realmente mais uma relíquia no cenário brasileiro de HQs. O Giorgio deu a dica ali em cima, então curte a fanpage no facebook e pede já o seu pacote! Vocês também podem acompanhar o andamento do trabalho pelo blog da HQ:

Nós do Estúdio Armon desejamos muito sucesso nessa caçada, Giorgio! Estaremos acompanhando seu trabalho de perto e que Salomão Ventura tenha muitos e muitos casos ainda para resolver! Haha!

Até a próxima!

Um comentário:

  1. Brilhante trabalho, comparável aos da antiga revista Krypta, e com o bônus de abordar um tema original que é a discussão do folclore em nossa cultura, nunca antes abordado tão a fundo e elucidativo por um autor de quadrinhos!

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