Opa! Chegando mais um "Armon Entrevista" na parada! Vocês estão bem?
A seção mais uma vez mudou de dia e está sendo postada num sábado. Isso é por conta das postagens sobre os integrantes do Estúdio que estão sendo feitas nas segundas. Mas não tem problema, o mês está só começando e o nosso entrevistado de agosto é o grande Vinicius de Souza!
O Vinicius é um desenhista famoso no meio dos quadrinhos independentes por conta do seu traço carismático e seu principal trabalho, Digude, um mangá esportivo sobre bolinhas de gude! Isso mesmo! Inusitado? Talvez. Divertido? Demais! Vamos conhecer um pouco mais sobre essa grande figura que é o José Vinicius de Souza Quinipa!
Vamos à entrevista?
Estúdio Armon: Olá Vinicius! Como foi seu primeiro contato com o mundo dos quadrinhos?
Vinicius de Souza: Olá, Fábio! Olá, leitores!
Meu primeiro contato com quadrinhos foi na infância. Desde quando tinha uns 3 anos, minha mãe sempre trazia quadrinhos da Turma da Mônica e da Disney para mim e eu adorava, mesmo não entendendo o que estava escrito nos balões. Acredito que esse contato, tão cedo, me estimulou muito a gostar de desenhar personagens de quadrinhos.
Armon: Pra você, desenhar é... ?
Vinicius: Diversão. Tenho liberdade de expor o que eu quiser no papel, alivio a mente jogando tudo nele (Funciona como uma "Penseira"). Eu estou sempre criando, e se eu não puser essas ideias para fora, eu acabo ficando entediado, e a diversão vem à tona quando tenho meu sketch book ou qualquer papel e lápis do lado para desenhar o que me vem à mente.
Armon: Seu principal trabalho é Digude. Como surgiu a ideia e como aconteceu a escolha da bolinha de gude como elemento principal da história?
Vinicius: Puxa... Isso surgiu por volta de 2002. Quando eu estava no Ensino Médio, eu tinha um grupo de amigos, com os quais eu jogava RPG, estudava, assistia animes; íamos a fliperamas e desenhávamos. Dentre eles, tinha um amigo que desenhava Mangá super bem e sempre criava histórias diferentes para desenhar e me estimulava muito. Então, sempre tinha uma ambientação em algum período ou tema que escolhíamos para cada um fazer a sua história, como, por exemplo: Idade média, futuro, guerras, etc.
Certa vez, esse meu amigo encontrou em um site, um Mangá
chamado Ilha do Jan ken Pon e começamos a rir, imaginando como seria a
história. Disso, surgiu a ideia de fazer uma história de esporte, com jogos que
ainda não haviam sido usados em Mangás da época. Daí, vieram vários tipos, como
pipa, balão, peão e, por fim, bolas de gude. O meu amigo fez uma com pipas e eu
com bolas de gude. A intenção era fazer algo com um humor mais escrachado, numa
linha semelhante ao Medabots, mas não fiz muitas páginas e logo desisti. Com o
passar dos anos, vim praticando desenho e chegou um momento em que quis começar
a fazer quadrinhos pra valer e, para exercitar isso, eu precisava de uma
história que não me desse tanto trabalho para desenhar, já que seria a primeira
história levada a sério. Então, eu tirei Digude do baú, recriei os personagens,
tanto interiormente, como exteriormente, de forma que eles ficassem mais
convincentes. Aproveitei a mesma ideia de ambientação, história, só que o humor
escrachado se perdeu um pouco, e comecei a produzir o storyboard. O problema
foi que não ficou tão simples como eu queria e a cada volume foi me dando cada
vez mais trabalho nos desenhos. (Risos)
Armon: Quando você desenhou o Di (Protagonista de Digude) pela primeira vez, imaginou que
chegaria tão longe na história?
Vinicius: Não acreditava, de maneira alguma, que as pessoas iriam
gostar. Esse personagem, com uma história simples e um visual clichê, acabou me
trazendo bastantes leitores. Achava que seria só uma história de treino, que
não passaria do volume 1. Então, quando tinha o storyboard pronto, mostrei para
alguns amigos, que falaram que era bem legal, mas mesmo assim não acreditei.
Até que mostrei para um pessoal que faz feira de fanzines no Rio de Janeiro, a
Zine Expo, que me disseram: - Cara, você tem que publicar isso! E assim foi.
Eu não acreditava que uma história sobre esse jogo, que é
considerado uma brincadeira boba de criança, pudesse chamar a atenção de
alguém. Mas o legal é que muita gente gosta, justamente por esse fato. Muitos
outros não gostam a princípio, por parecer uma história boba, mas dentre esses,
muitos acabam gostando ao conhecer a história dos personagens, que é o foco de
Digude.
Armon: Antes de Digude, fez algum outro trabalho com quadrinhos?
Vinicius: Profissionalmente, fiz um, onde eu tive que desenhar uma
história para um site estrangeiro, mas levei um calote e até hoje não recebi
pelo mesmo.
Fiz outros vários para eu exercitar, mas nunca divulguei
para ninguém. Achava péssimo, mas, se por ventura, eu encontrar as minhas
pastas antigas antes da publicação da matéria, farei um scan de algumas dessas
páginas antigas, com exclusividade.
Vinicius: Sim! Quando comecei a desenhar Digude, já sabia o que
exatamente o que eu iria querer no início, no meio e no final da história.
Digude é uma história longa. Não tem como eu deixá-la curta, porque ficaria
muito corrida e muita coisa importante seria deixada de lado. Eu tinha me
programado para fazer um arco de 10 volumes, porém, o tempo foi passando e
algumas ideias amadureceram mais, com tudo que aprendi desde que comecei a
desenhar Digude. Então, eu acrescentei algumas coisinhas, para mostrar melhor o
lado interior de cada personagem e isso acabou ultrapassando o tanto de volumes
que pretendia. Agora, vejo que esse 1º arco não terá menos de 15 volumes. Será
que chego lá?!
Acredito que, depois desse primeiro arco, as coisas fluirão
mais rápido para que Di chegue até a Alemanha e consiga reencontrar a sua mãe.
Armon: Conte
um pouco do processo de criação do Digude.
Vinicius: Eu tenho diversas anotações sobre cada personagem. Tenho um
resumo de toda a história e trabalho na mente como as situações acontecerão em
cada volume. Daí, eu escrevo plots de cada capítulo, na medida em que vão
avançando os volumes. Depois de ter o capítulo escrito, eu faço uma espécie de
linha temporal, numerando cada página do capítulo. Separo a quantidade de
páginas por situações, como diálogos, disputas, clímax e encerramento. Logo
após, eu começo a desenhar o storyboard, que talvez seja a parte mais
complexa. Quando o storyboard fica pronto, eu começo a desenhar as páginas.
Faço em folhas A3, pois tenho mais liberdade de acrescentar detalhes. Após
isso, eu escaneio as páginas, aplico retículas, coloco os balões de fala e faço
a diagramação final, para enviar para a gráfica.
É bem trabalhoso, mas foi a maneira mais prática que
consegui para fazer isso de forma caprichosa, e ultimamente, os resultados têm
me agradado bastante.
Armon: Não
é nada fácil navegar no mundo dos quadrinhos brasileiros. Qual a motivação que
te faz içar as velas e como não deixar o barco virar?
Vinicius: Eu tenho um prazer muito grande em desenhar quadrinhos,
entreter as pessoas e ouvi-las comentando comigo entusiasmadamente sobre a história.
Isso me motiva muito!
O que facilita muito a minha permanência como quadrinista independente é o fato de que eu trabalho no meio. Não vivo de quadrinhos, mas
vivo de desenho. Assim, sempre tenho tempo para produzir algo, por mínima que
seja essa produção.
Bom... Quando eu comecei, já sabia que não conseguiria viver
dos lucros de quadrinhos no Brasil, ainda mais de forma independente. A menos
que eu conseguisse trabalhar para alguém já consolidado, como o Maurício de
Souza. Então, fiz um investimento inicial
com Digude 01, para poder publicá-la, esperando, pelo menos, recuperar o valor
investido. Porém, as vendas me surpreenderam e o volume 01 esgotou no primeiro
evento que participei como fanzineiro. Com o valor do lucro, eu criei uma base
em que eu pudesse sustentar a revista somente com os lucros da mesma. Com isso,
fiz adesivos, promoções, divulgações e as vendas sempre deram certo. Isso fez o
barco nunca virar.
Claro que o público não é enorme, mas se não estivesse
gostando e apoiando, eu não conseguiria seguir com a história e seria um grande
sinal de que a história não é boa e deveria parar. Mas como as pessoas sempre
estão me perguntando as novidades e querendo mais, isso me faz içar e a
história não pode parar!
Vinicius: Esse é um ponto muito complexo, pois opiniões são bem
divididas quanto a isso. Alguns acham
que é por culpa de preconceito do leitor brasileiro, outros acham que é por
culpa das editoras, que não apoiam.
Na verdade, eu acho que é um pouco de tudo isso. Os fãs tem
preconceito com o mangá nacional, porque muitos só querem ler obras originais
japonesas e/ou porque acham a qualidade dos mangás nacionais baixa. As editoras
apoiam poucas obras nacionais devido ao baixo número de venda, mas fazem uma
divulgação fraca dos trabalhos publicados.
Existem muitos quadrinistas
independentes pelos eventos e pela internet e a maioria, está iniciando e
arriscando o que sabem para se divertirem, divulgarem suas criações e aprender
mais. Logo, os trabalhos iniciantes têm falhas mais obvias que trabalhos de
pessoas que fazem isso há muito mais tempo, o que é super normal. As pessoas
começam amadoramente e vão evoluindo. Tem trabalhos meus de 4 ou 5 anos atrás,
que eu vejo uma diferença absurda, porque eu estava iniciando com fanzines e a
qualidade era muito inferior.
O fã observa estes trabalhos que estão iniciando e os julgam
como profissionais. Acabam generalizando e cria aquela coisa de que Mangá
brasileiro é ruim. Isso faz com que as editoras não tenham muito interesse em
publicar Mangás nacionais. O que faz com que muitos autores não caiam de cabeça
nisso e, com isso, muitos promissores desistem e apenas uma minoria de autores
continua persistentemente se esforçando para crescer com suas obras.
Armon: Quais são suas referencias no desenho? Nacionais e
internacionais?
Vinicius: Dos nacionais, eu lia muito Turma da Mônica e as historinhas
do Ziraldo na infância e acredito que tenha me influenciado. Já mais velho, eu
conheci Erica Horita, que desenhou Ethora e há pouco tempo lançou o Mangá Hero
Party. A Erica, com seu lindo traço, me influenciou muito mesmo (Confira a entrevista dela para o Estúdio Armon clicando aqui). Tive um pouco
de influência de Erica Awano e também do Ed Benes. Fanzineiros brasileiros
também me influenciaram muito, pois sempre aprendi observando suas obras e
coletando dicas. Posso citar alguns, como Nilton Simas (LunchTime) e a Aline
Diniz (RHE-ex).
Dos internacionais, eu tive muita influência do Akira
Toryama (Dragon Ball), Yoshiuki Sadamoto (Evangelion), Hiroaki Samura (Mugen no
Juunin), George Morikawa (Hajime no Ippo) e, principalmente, Takehiko Inoue
(Slam Dunk, Real, Vagabond). Fora do Mangá, também tive influências, como Alex
Ross e Jim lee.
Armon: Quais
quadrinhos brasileiros você recomenda para os leitores do Estúdio Armon?
Vinicius: Dos que eu já li, os que eu mais gostei foram Ledd,
LunchTime, Tools Challenge, Sigma Pi, Madenka, Inusitado, Ethora e Patre
Primordium. Estou num débito de leitura com muita gente ainda. Inclusive com o Estúdio Armon. Já falei 2 vezes que iria comprar "A Princesa
Bernardes" e "Talento FC" e nada ainda. Tenho alguns quadrinhos
e livros nacionais aqui, que nem sequer tive tempo de abrir para ler, por conta
do trabalho que não me deixa tempo sobrando, mas assim que eu terminar de ler
esses aqui, eu irei comprar os fanzines que havia dito.
Vinicius: Essa pergunta não tinha resposta até 2 semanas atrás. Os
arquivos estavam presos em um HD, que eu não estava conseguindo remover, mas há
pouco tempo consegui. Falta acabar alguns detalhes e, de acordo com o meu tempo
que tenho para mexer em Digude, acho que será lançada no final de Setembro. Mas
agora vai!
Armon: Quem quiser adquirir os capítulos de Digude hoje, precisa fazer
o que?
Vinicius: Tem 4 maneiras de adquirir Digude.
Pelo site
space geeks: http://www.spacegeeks.com.br
Pelas livrarias da Travessa
Anime Family, Anime Wings e demais eventos de anime do Rio
de Janeiro
E também, comigo, pelo e-mail: quinipa@gmail.com
Armon: Qual o recado para quem quer seguir seus passos e fazer uma
história divertida e empolgante de maneira independente?
Vinicius: Observe mais as pessoas à sua volta! Divirta-se fazendo sua
história! Divirta seu leitor! Passe
alguma experiência de vida através de sua história!
Acho que observação é a base de tudo isso, pois sempre observo as pessoas, as
situações e, muitas dessas, eu utilizo na história. Pensando como leitor, nós
nos empolgamos quando nos identificamos com alguém na história e torcemos por
esse alguém e, se isso acontece, é porque aquele personagem e as atitudes dele
são convincentes, por mais que seja em um simples trecho de comédia. Acredito
também que se divertir fazendo sua história, é um ponto ótimo. Porque se o
autor, tendo bom senso, se diverte fazendo a sua obra, o público leitor também
vai se divertir. Mas tem que querer e amar fazer isso, você também deve ter
algo para passar através de sua história, senão não sairá algo verdadeiro e
significativo, o que não agradará o leitor.
Obrigado por essa oportunidade de ser entrevistado aqui, Fábio!
Obrigado por essa oportunidade de ser entrevistado aqui, Fábio!
Abraço a todos os leitores do Blog!
É isso aí, galera! Curtiram a entrevista? O Vinicius atualmente, além de estar trabalhando em cima do capitulo 6 de Digude também está realizando um projeto denominado Heros (Pronuncia-se Éros, por ser uma palavra em latim). Uma nova história em quadrinhos da qual ele vem disponibilizando desenhos, sketchs, páginas e personagens aos poucos para atiçar a curiosidade do pessoal no facebook. Assim que esse projeto estiver pronto mostraremos aqui no blog e quem sabe não fazemos uma nova entrevista com o Vinicius, baseada na produção de Heros! Vejam uma das páginas que ele disponibilizou ao lado. Com um traço mais maduro, promete ser uma grande história. Esperamos ansiosos!
Quem quiser conhecer mais sobre o Vinicius, Digude ou seus projetos, pode acessar o site do fanzine por este link: http://zinedigude.blogspot.com.br/.
Quem quiser e morar no Rio de Janeiro também pode ter aulas de desenho e roteiro com o Vinicius! É uma ótima oportunidade para aprender com alguém já experiente e com muitas dicas para dar!
Espero que tenham gostado da entrevista, tanto você, Vinicius, que tem situ um parceiro importante nessa caminhada do Estúdio Armon nos quadrinhos. Posso dizer que grande parte da nossa escalada tem influencia da sua coragem para enfrentar o mercado independente de frente! Nos inspiramos muito em Digude para decidir começar as nossas histórias e quem sabe essa entrevista inspire você, leitor! Pega o lápis e o papel e vai desenhar! O caminho é duro, mas divertido! Então, bora com a gente?
Até a próxima!
excelente entrevista!! ótimo trabalho!!
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