O mês de abril acaba de dizer "olá" e a empolgação toma conta do Estúdio Armon! Novos dias virão, Talento FC 04 prestes a sair, 3 novas histórias que estavam empacadas pelo concurso da JBC irão ser divulgadas para vocês, os nossos quadrinhos estão fazendo um sucesso bacana no site de leitura online UPMangá, com Monomania e Ticom6 figurando entre os 20 mais votados toda semana. As coisas vão andando aos poucos e isso me deixa bastante feliz. Mas o que me deixou mais feliz foi o convidado desse mês do Armon Entrevista que aceitou conversar com a gente. É um cara que admiro bastante e outro grande artista que tive o prazer de conhecer na internet: Gustavo Borges!
O criador da série de tirinhas "A Entediante Vida de Morte Crens" posta semanalmente em 3 blogs de tirinhas, deu vida a um livro de sua série principal recentemente e foi recomendado como um dos melhores autores de quadrinhos independentes por Sidney Gusman, o cara mais experiente em quadrinhos no Brasil. Não é fraco, não... Vamos conferir essa entrevista que ao meu ver, foi uma das melhores do Estúdio até hoje! Bora lá?
Estúdio Armon: Olá Gustavo! É um prazer ter você
como o entrevistado desse mês. É a primeira vez que temos um autor de tirinhas semanais
por aqui. Acompanhar o seu trabalho é um grande aprendizado para nós. Como se
sente sabendo que milhares de pessoas acompanham as suas criações?
Gustavo Borges: Olá, o prazer é todo meu. Fico muito feliz de ouvir isso,
obrigado! A ficha vai caindo aos poucos. Pensar que as ideias que eu escrevo no papel
são lidas, aceitas e compartilhadas por muita gente, é surreal. Eu ponho um
pouco de mim, uma ideia, uma mensagem, em tudo que desenho, se cada pessoa que
lê meus quadrinhos estiver levando isso adiante, eu consegui fazer tudo. É
ótimo.
Armon: Qual foi o seu primeiro contato
com quadrinhos?
Gustavo: O primeiro contato foi um gibi da Mônica. Mas o que eu considero
o primeiro grande impacto com os quadrinhos, foi perto dos 8-9 anos, o dia que
encontrei na banca perto da minha casa, a Edição Definitiva do Dragon Ball,
número três. Aquela capa vermelha, a pose de luta do Kulilin, tudo me
conquistou, eu nunca tinha visto um mangá, e nem sonhava que existia Goku em
quadrinhos. Prometi ao meu pai pagar ele, se ele comprasse, e eu realmente
paguei!
Armon: Quando surgiu a vontade de criar
quadrinhos e como foi a sua primeira tentativa?
Gustavo: Por volta dos 10 anos, quando eu percebi “eu também posso
fazer quadrinhos”. Minhas primeiras tentativas foram uma hq bem parecida com o
universo de Lilo e Stich, que eu inclusive imprimi umas 5 cópias para dar de
presente pra família, e outra HQ no estilo mangá, parecida com Dragon Ball
(esta ficou inacabada).
Armon: Como surgiu a ideia para criar as
desventuras do Morte na sua série de tiras “A Entediante Vida de Morte Crens”?
Gustavo: Acho que há duas respostas pra essa pergunta, uma delas é
como o Morte Crens surgiu, e a outra é de onde veio a ideia de eu fazer tiras!
Eu andava bem melancólico, (coisa adolescente pura) e numa tarde ouvindo
Avenged Seven Fold, eu rabiscava caveiras numa folha, até que numa delas saiu a
que viria a ser o M. Crens. No início a ideia de história pra ele era bem
diferente, seria as desventuras amorosas da morte por um mortal... Logo cortei
isso pela raiz. Mas não descarto a moral da ideia, quem sabe ainda posso
recicla-la. A ideia de eu desenhar tiras foi um copilado de coisas. Eu não
queria desenhar minhas grandes ideias, porque sabia que ainda não era um
artista tão bom ainda, então estava à procura do meu primeiro passo. Eu lia
muito Peanuts e Calvin e Haroldo, mas foi quando eu encontrei o blog do Vitor
Cafaggi, o grupo de artistas da Pandemônio inteiro, que eu percebi como eu
queria fazer tiras. E realmente pensei sonhando “imagina ter o meu quadrinho
entre o desses caras”... No FIQ 2013, eu lancei o Álbum da série no stand da
Pandemônio ao lado de todos os caras que me inspiraram. Foi incrível e muito
gratificante.
Armon: A morte é um tema que muitas
pessoas encaram de maneiras diferentes devido a variadas crenças e culturas. No
que o Gustavo Borges acredita, se tratando de morte?
Gustavo: Eu fui batizado na igreja católica, mas nunca acreditei no
cristianismo. Não chego a ser ateu, então me defino como agnóstico. Mas se é
pra escolher uma religião com que eu concorde mais, ela é o espiritismo.
Mas se tratando do pós morte, eu acredito que a vida continua
sim, de alguma forma não definida exatamente, mas ao menos pra mim não é como
se fosse um fim.
Armon: Algumas vezes as tiras do Morte
Crens apresentam humor negro, algumas vezes um humor mais leve e outras, temas
sérios para reflexão. Como você consegue balancear e escolher o que irá abordar
a cada semana?
Gustavo: Eu sempre quis que o leitor aceitasse essas duas caras do
M. Crens. Uma mais séria e outra mais humorada. Então, fui ao longo da série
jogando entre esses dois temas. Assim não gera um estranhamento caso do nada
ele fique muito sério ou muito escrachado.
Armon: Nos conte como é o processo de
criação dos quadrinhos desde a ideia saindo da sua cabeça até ela chegar aos
nossos olhos pelos seus blogs. Ah, se puder, cite alguns materiais que você
utiliza para pegarmos de referência. (Risos)
Gustavo: Eu ando com um caderno, anoto
todas as tiras em forma de texto. Faço um mini layout, só para saber como a
tira vai fluir. O original da tira é feito numa folha A4, a grafite azul,
depois faço a arte final toda a nanquim, utilizando canetas descartáveis,
pincel e pena. No Photoshop faço os quadros, a cor e escrevo os textos dentro
dos balões. Aí ela finalmente está pronta pra ir pra minha revisora oficial
(minha namorada Caroline Souza), que me alerta sobre erros de português antes
de eu postar.
Armon: Quando você começou a fazer seus
quadrinhos, tinha alguma ideia de que eles seriam lidos por tantas pessoas e
que chegaria até onde chegou?
Gustavo: De certa forma sim. Eu sempre fui muito decidido, então
sei que eu iria tentar e tentar de novo, até conseguir. Mas eu não fazia ideia
que o meu primeiro passo seria as tiras do Morte Crens, nem que elas tomariam a
proporção que tomaram. E isso me faz mais do que feliz, porque sei que acertei
quando decidi investir naquela caveirinha rabugenta.
Armon: Recentemente você lançou um livro
com as tiras do Morte Crens. Como foi o processo de criação do livro? O livro
recebeu até uma menção honrosa do Universo HQ pelo Sidney Gusman, qual foi a
sensação?
Gustavo: Eu juntei o melhor de todo o início da série, produzi umas
tiras novas e ainda colori o que faltava ser colorido. O livro foi recebido
muito bem no festival, pelo público e pelos outros artistas. Quando eu vi que o
Sidão estava postando no facebook, falando bem de mim, eu fiquei muito
emocionado. Foi um momento incrível, afinal eu não imaginava que com 18 anos
alguém como ele já me conheceria, e ainda por cima comentaria o que ele
comentou. Depois com a menção honrosa nos quadrinhos de 2013, foi como fechar
com chave de outro. Fiquei literalmente pulando de alegria.
Armon: Como você encara o mercado de
quadrinhos independente? Quais são as maiores dificuldades que os quadrinistas
e ilustradores precisam encarar, em sua opinião?
Gustavo: O Artista
independente tem que assumir todas as posições, afinal não temos uma editora
por trás de nós para agenciar. Então tem que encarar as etapas do desenho até a
auto divulgação, responder e-mails e ir bater perna na rua oferecendo o livro
em comic shops, frequentar todos os eventos e mostrar que existe. Os artistas
nacionais estão fazendo isso muito bem, está chamando a atenção das editoras.
Acredito que a maior
dificuldade seja nós mesmos. Depois o nosso círculo de amizades e família, por
fim o mercado. Porque primeiro você tem que estar focado, querer de verdade e
estar disposto a batalhar para atingir o seu objetivo. Se você não convencer a
si mesmo de que pode fazer isso, sua família não vai acreditar, muito menos o
mercado. A determinação tem que vir em primeiro lugar.
Armon: Em sua opinião, qual é a importância da internet hoje em dia para a divulgação
de trabalhos como o nosso, quadrinhos, tirinhas, ilustração e coisas do gênero?
Gustavo: Toda. A internet permite publicar conteúdo de graça, e
ainda testar para ver como ele se sai com um público, criar um terreno. Tem
também a acessibilidade de conversar com outros artistas, ter um feedback do
seu trabalho, e até mesmo as plataformas de financiamento coletivo como o
catarse, que podem dar uma grande ajuda na hora de lançar um livro físico.
Armon: Além do Morte Crens você também
tem mais dois blogs de tirinhas, o Edgar e o 30 Minutos. Comente sobre eles e
quais outros trabalhos já tiver realizado.
Gustavo: “Edgar” é
uma web comic científica sobre a vida do castor Edgar. Nela se passa a visão de
um gênio sobre a sociedade, a forma que ele encara e vive a vida. (Da mesma
forma que foi para Newton, Einsten, Darwin...) Todas as tiras vem acompanhadas
de vídeos, explicando toda a base científica que tem por trás das tiras, feito
pelo físico Giovane Mello, que é quem escreve a série lado a lado comigo.
30 minutos são
tiras diárias onde eu desafio o relógio todos os dias para conseguir fazer uma
tira inteira em meia hora. No fim o meu tempo de resolução é postado junto da
arte. É uma série de humor, com tema livre, sendo às vezes autobiográfica.
Atualmente o
que mais vocês podem conferir meu, é na coletânea Tudo Já Foi Dito, que está em
campanha no catarse. É uma HQ do Pedro Hutsch Balboni, onde 18 artistas
desenharam cada um 2 páginas da história.
E dia 12 de
abril será lançado na web uma homenagem ao Hayao Miyazaki, onde eu e mais um
monte de artistas fizeram ilustrações para prestigiar o grande trabalho desse
mestre.
Armon: E os seus projetos para o
futuro? O que tem em mente para o Morte Crens? Tem algum projeto que pretende
realizar e que pode nos contar?
Gustavo: Para o futuro tem muita coisa... Mas eu não posso contar
não. O Morte Crens chegou a uma fase onde mais personagens vão ser apresentados
e outros formatos de histórias também. Edgar e 30 minutos com certeza também
ganharão livros... E fica o gostinho de quero mais!
Armon: Quais são os
artistas que serviram e servem de referência para você? Cite artistas nacionais
e internacionais também.
Gustavo: Jeff Smith, Don Rosa, Eduardo Medeiros, Scottie Young,
Enrique Fernandez, Paulo Crumbim e Cristiana Eiko, Vitor e Lu Cafaggi, Cyril
Pedrosa, Eduardo Damasceno, Hayao Miyazaki, Vencys Lao, Serrrgio, Pedro
Cobiaco, Akira Toriyama, Justin Patrick e Eichirio Oda. (Não necessariamente nessa ordem)
Armon: Antes de terminar,
eu tenho uma dúvida besta, mas que surgiu quando conheci seu trabalho e acho
que muitas pessoas também já devem ter se perguntado. Seu nome é Gustavo
Borges, o mesmo de um grande nadador brasileiro. Isso não atrapalha no
reconhecimento das suas obras? Ninguém nunca relacionou o Morte Crens ao
nadador Gustavo Borges? (Risos)
Gustavo: Acredito que essa relação entre o nadador e o Morte Crens
só vai acabar sendo feita no dia em que o pior acontecer com ele... (risos) Mas
nunca atrapalhou em nada, mas sempre rola as perguntas e piadinhas sobre o
nome.
Armon: Deixe os links dos
seus blogs, da Entediante Loja de Morte Crens e quaisquer outros links contendo
seus trabalhos para os nossos leitores conhecerem.
Gustavo: A Entediante Vida de Morte Crens: http://mortecrens.blogspot.com.br/
30 Minutos: http://30mincomicstrip.blogspot.com.br/
Armon: A entrevista foi gigantesca, mas
é que foi realmente uma honra te entrevistar e é sempre um aprendizado
conversar com pessoas que se dedicam tanto quanto nós ao que gosta. Gustavo Borges
é uma das minhas referências para continuar trabalhando com quadrinhos, com
toda certeza. Deixe uma mensagem para pessoas que gostam de desenhar e querem
fazer trabalhar com isso e criar quadrinhos assim como nós.
Gustavo: Acredite
em si mesmo, não pare de desenhar e não tenha medo de errar, é importante, só
assim vai evoluir mais e mais. Trace metas, foque em um objetivo e corra até
ele, quando chegar lá, faça de novo...
Eu agradeço
pelo convite. Fico muito feliz de verdade de ler isso, mesmo. Foi muito divertido
responder a entrevista! Obrigado!
***
É isso aí, pessoal! Sem dúvidas, essa foi uma entrevista inspiradora para mim e aposto que para todos os quadrinistas que estão começando e que veem nas tirinhas uma forma divertida de trabalho. Eu acompanho o blog do Morte Crens há um tempo e sempre me divirto com as tirinhas do Gustavo. Ele é um exemplo de artista perseverante e nós do Estúdio Armon desejamos muito sucesso e estamos ansiosos para os projetos futuros. Espero que tenham curtido a entrevista! Para finalizar, sabiam que o Morte Crens também é poeta? Fiquem com um poema da nossa caveirinha favorita!
Até a próxima, galera!
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